Resenha| As Vantagens de Ser Invisível, de Stephen Chbosky

By Renato Almeida - 1/10/2021 03:00:00 AM

Será que é mesmo necessário dramatizar excessivamente a narrativa de um livro ao falar de um tema denso? Em "As vantagens de ser invisível", escrito por Stephen Chbosky, em 1999, vemos que isso não é requisito essencial na criação de uma romance. Muitas vezes seguir outro caminho na construção da história é uma escolha muito mais inteligente e eficaz. O que lemos nesta obra que se passa entre os anos de 1991 e 92, retratando de forma crua e o mais próxima da realidade as vivências de Charlie, o protagonista do livro, um adolescente que começa a cursar o ensino médio e sofre de depressão, doença que já é considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) o mal deste século.


O livro é narrado em formato epistolar, ou seja, através de cartas escritas por Charlie e endereçadas ao "querido amigo", uma pessoa anônima, para quem, ele expõe de forma íntima, hilária e devastadora tudo o que vem passando. E, embora em sua primeira carta o adolescente cite o medo de se sentir excluído no ensino médio, aos poucos ele se dá conta do quanto aquele momento poder ser a mudança que tanto deseja em sua vida pessoal e social. Todo esse pensamento se solidifica quando ele conhece Sam, Patrick e demais pessoas que denominam, ironicamente, seu grupo como "ilha dos brinquedos rejeitados". Charlie começa a ter diversas experiências, entre elas, convívio social, primeiro amor, uso de drogas lícitas e ilícitas, brigas e várias outras situações, enquanto lida com seus traumas de infância, além dos dilemas que surgem não só em sua vida, mas nas das pessoas que o cercam.

Chbosky traz também referências musicais e literárias, utilizadas claramente como recomendações para os leitores. A música "Heroes", do cantor e compositor David Bowie, encaixa-se perfeitamente no sentimento compartilhado entre Charlie e seus amigos, a ânsia de se fazer um grande feito, ou como a própria canção cita "nós podemos ser heróis, apenas por um dia". Há também a indicações de livros, entre eles, O sol é para todos, O grande Gatsby e Hamlet, feitas por Bill, professor do adolescente, que acabam contribuindo para sua visão de mundo e senso crítico. 

Mas o que realmente diferencia esse livro das demais ficções juvenis, é o modo como o autor não poupa o leitor das qualidades, defeitos e demais características de cada personagem, mesmo a narrativa contando com apenas um único ponto de vista. Apesar de ser uma história direcionada ao público jovem, As vantagens de ser invisível é o tipo de livro que pode ser lido não só por adolescentes. Afinal, é uma obra rica em frases de impacto e reflexão e, ao mesmo tempo, possui certo grau de humor moderado, principalmente na forma como o protagonista se expressa em determinados momentos. Serve para entreter, ensinar e nos lembrar de momentos complicados da vida. Stephen Chbosky possui uma abordagem madura e atemporal, e isso resulta em um retrato sincero de como um jovem pode tentar se recuperar de eventos traumáticos, visando confrontar a si mesmo a viver. E também prova o poder do amor e da amizade, ao trazer a possibilidade de tirar qualquer um de seus momentos mais complexos e sombrios. 

Vale ressaltar que esta foi a primeira publicação de um livro de Chbosky. A obra foi aclamada pela crítica, justamente pela forma com descrevia os adolescentes sem estereotipá-los. Esse sucesso levou o autor e roteirista inevitavelmente ao cinema. Foi assim que ele se arriscou na direção de seu primeiro filme comercial que se baseou nesse sucesso literário. A adaptação contou com os atores Logan Lerman (Charlie), Emma Watson (Sam), Ezra Miller (Patrick), tendo seu lançamento em 2012, e também recebeu bastante elogios da crítica mundial, por transmitir de forma delicada uma história tão complexa e inquietante. 






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